sexta-feira, 17 de abril de 2015

Uma viagem pela história da saúde mental em Minas Gerais: o Hospício de Diamantina


Aproveitei a viagem à Diamantina na Semana Santa para ler e ver de perto um pedaço importante da história da saúde mental em Minas Gerais: o Hospício de Diamantina, o primeiro hospital de "alienados" do estado - no Brasil, o primeiro foi o Hospicio Pedro II, inaugurado no Rio de Janeiro em 1852. Chegando em Diamantina fui à única livraria da cidade - a charmosa Espaço B - e lá, por puro acaso, acabei me deparando com o livro "Hospicio de Diamantina: a loucura na cidade moderna", escrito pela psicanalista Maria Cláudia Almeida Orlando Magnani a partir de sua dissertação de mestrado defendida na Fiocruz. Li o livro no mesmo dia (são apenas 100 páginas) e no dia seguinte fui ver de perto o Hospício - não tão de perto como gostaria pois o local está fechado para restauração e deve ser aberto para visitação em breve. 

Criado em 1889 como um anexo da Santa Casa de Diamantina (fundada em 1790), o Hospicio de Diamantina foi, como aponta a autora, uma "promessa que não se cumpriu". A promessa é de que seria um espaço "moderno" tanto de acolhimento dos "alienados" (também chamados à época nos jornais da cidade de exilados ou prejudicados da razão) como de tratamento e até cura - visão extremamente avançada para aquele momento no qual o "tratamento aos loucos" não era nem se propunha a ser laico, profissional e medicalizado. No entanto, o hospital nunca funcionou como se esperava, fechando suas portas em 1906. A partir deste momento o hospício de referência em Minas, para onde seriam levados (nos chamados "trens de doido") todos os "alienados", seria o famoso Hospital Colônia de Barbacena, criado em 1903. 

Deixo aqui como reflexão a conclusão da autora do livro, na qual ela expõe quem eram os tais alienados - e quem eram os tais "normais": "pode-se vislumbrar quem era considerado normal em Diamantina no final do século XIX e no princípio do século XX: os homens brancos, de posses, pais de família, seres racionais e as mulheres casadas, mães de família das classes médias e altas, dóceis, submissas, boas esposas e sem desejos. O que nos dá o perfil social dos nossos loucos: negros e mestiços, pobres, escravos ou trabalhadores simples, mendigos e desocupados e mulheres que, mesmo protegidas pelo casamento e pelo marido, poderiam a qualquer momento, perder a razão em função de sua fragilidade natural. Ontem, como hoje, negros, pobres e mulheres pertencem às categorias perigosas da sociedade".

Confira abaixo algumas fotos que eu tirei no local.






O Caps Renascer funciona aos fundos do antigo Hospício de Diamantina

Santa Casa de Diamantina